Só o talento já não basta



Aqui está, um ator que dedicou a vida ao aprendizado da arte do fazer teatral. Esta jornada me tem dado muito prazer e foi através do teatro que embasei meu crescimento me tornando um ser inquieto e ávido por conhecimento. Passaram-se aí 40 anos desde o primeiro contato com a cena que seria o primeiro ato desta história. A primeira vez em que vi um ator em cena, definiu o que eu queria fazer da vida. Assisti absolutamente encantado a um ator, que sozinho no palco, contou-me uma história a qual era possível vivenciar ali, cada palavra. Desde então sempre que tinha algum tempo livre, estava lá um garoto em busca de tudo que tivesse relação com aquela magia.
 Aos poucos fui descobrindo qual a importância real daquele instante que tanto me impressionaria pelo resto da vida. Paulo Autran é ainda hoje, uma referência muito forte para mim. 
Tive uma chance única de conhecer meu ídolo pessoalmente. E não deixei escapar a oportunidade de cometer a “tiatagem”. Foi quando ouvi do próprio: “Se quiser fazer bom teatro, tornar-se um bom ator, estude. Muito”.
Com o passar dos anos, fui tendo uma melhor compreensão do que me havia dito o mestre . Era muito mais significativo do que simplesmente “estude, e estude muito”. Uma verdade incontestável!  
-Não basta apenas ter talento. Conhecer sua arte é tão importante quanto ela própria.
E vai além, há que ter comportamento, atitude e iniciativa. A arte, seja ela qual for, tem a função do arquiteto. Materializar o sonho diante dos olhos do espectador. Aqueles, serão momentos únicos. E preciosos. Encante-os!
Ao apreciar uma obra de arte, seja uma pintura, fotografia, ouvir um concerto, assistir um espetáculo ou um filme, tal ação deve nos causar uma sensação tal que nos faça pensar sobre o tema e este nos faça refletir sobre nós mesmos. Do contrário esta arte não terá nenhuma função. E a obra em questão que não nos der tal informação e que precisemos que o artista tenha que explicá-la, um dos dois é ignorante. Esta arte tornou-se efêmera e desnecessária. E o artista tornou- se inútil.
A arte que vejo, esparramada, tem muito disso, inutilidade. Tornou-se promiscua, fútil. Desnecessária. Estamos contemplando o artista da pirotecnia. Dos prazeres baratos. Despreparado.
Há uma necessidade urgente de modificar os objetivos e os objetos afim de que não nos transformemos num entulho cultural em curto espaço de tempo. Essa visão obcecada pelo volátil, pelo efêmero é o fracasso do "artista" como tal.
-Nem tudo que aí está, é arte! E ponto. 
Denominar qualquer atividade como obra de arte é banalizar a essência. É aniquilar o processo criativo. É soterrar o talento privilegiando a ignorância.
A banalização das artes (da literatura, do cinema, da música, da dança, da dramaturgia, da pintura, etc...) é o trinfo da frivolidade  de uma política cultural que apresenta sintomas graves de uma epidemia e um mal ainda maior vitimado por uma sociedade contemporânea: A ideia temerária de se conceber uma arte com o propósito apenas do entretenimento.
Abandonou-se a cultura e como consequência demos as costas à realidade.
Celebra-se a arte apenas como distração. A idéia do intelectual do século XXI está na condição de espectador obediente e submisso. Ainda que alguns poucos protestem, levantem-se contra a anti-cultura, tornem-se polêmicos, combativos e resistentes, essa repercussão é quase imperceptível. Muitos, ao detectar essa situação, optam por discreto silêncio.
Já os inquietos e atentos, conseguem fazer uma duríssima radiografia de “nosso” tempo” e dessa “cultura” que se encaminha a passos largos para a “espetaculização da mediocridade” e uma inconsequente “imbecilização social”
- Por fim...


“Temos a arte para não morrer da verdade”disse Nietzsche, outro mestre.

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